Venho lhe pedir para me mostrar como errar erros novos. É que dos erros antigos, Senhor Deus, as pessoas já cansaram. Eu nem tanto, a maioria das vezes eu nem os percebo e, sabe, estou até tão acostumado a errar algumas coisas, que nem quero tanto assim mudar não, porque é cansativo.
Mas não quero que as pessoas que eu gosto cansem de mim; e dos meus erros já conhecidos e óbvios e piadas entre amigos.
Na verdade, Senhor, para ser totalmente honesto com sua Onisciência, preciso dizer que quero mudar sim, que é ruim não mudar, que entristece ver todos mudarem e a gente não – ficar assim, parado, olhando, e todos indo e a gente não -. Então quero mudar sim, mas é que não sei como.
Quando penso muito acho claro que o problema está aí: no ‘não saber como’, Senhor. Então penso mais um pouco e começo a achar que, sinceramente, eu não sei direito que erro é esse que tem que deixar de ser errado. E quando dou exemplo disso ou daquilo, dizem-me simplesmente “bom, então deixe de fazer isso”. É mais difícil não matar o pé de ipê quando somos nós os donos da rua.
Parece muito mais difícil descobrir o como antes do o que. Mas, um pouco que analisando, talvez se alguém simplesmente me dissesse o que fazer eu só não ouvisse. E se me disserem o que faço, eu não vou entender, porque não percebi sozinho. Nos metemos em cada sinuca por aqui, Senhor, o Senhor nem ia acreditar.
Senhor Deus, vai ver então que o Senhor nem precisa fazer nada não. Que quem tem que ver sou só eu mesmo. Mas, se o senhor não puder me dar uma dica, uma pista ou coisa assim, eu vou ficar muito grato só de saber que tem alguém olhando eu reclamar. Vendo.
Muito obrigado,
Ronan.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Trecho
alguns dias eu nem acredito das coisas das quais faço parte
Veja o menino que fui; o que tinha certeza de que a vida passaria num quadro impressionista, retratando eternamente aquele mato orvalhado cobrindo a terra lamacenta do quintal. E o único lugar para o grande, para o notável, seria a tela daquela cabecinha de menino, de imagens rápidas, sólidas e surrealistas. É esse menino que se isola no quarto com outras telas repletas de artificialidades pontilhadas e digitais, a salvo dos sustos de notar a vida notavelmente grandiosa que construiu sem se saber construindo – pois de outra forma, inclusive, poria tudo abaixo -, para tomar algum fôlego, pois os anos passam e ele ainda guarda a sensação de que a felicidade é vertiginosa, estranha expansiva. Que lhe descompressa os pulmões e exige ar, tomando espaço, ocupando; com um agir intuitivo de levantar a mão e se imprimir no mundo.
Mas essa felicidade é um sopro, está claro. Veja como escrevo: falando a você, sempre a você – querendo ser visto (bem, isso é humano, nós sabemos) -. Só que tão pequeno, tão comprimidamente. Um comprimido de texto. Como se diz das crônicas de humor, só que sem graça. Espere.
Eu sou simplesmente um produto do meu tempo (olhe que tolice: acabo de dizer “isso é humano”. Como se tudo mais, inclusive eu, não o fosse) assim vivemos, sentimos e lembramos. Tudojunto. Pequeno e rápido, talvez não se viva. Mas certamente se fala assim. Economizando. Um ponto disso, um ponto disso e você já sabe o que quero dizer, então para que precisamos ter isso dito? Nós dois, eu e você, temos pressa, mesmo que seja uma pressa tranqüila. É porque vamos apenas passar. E a sua vida na minha mente fica sendo um retrato impressionista.
Então temos tristeza. Eu noto tristeza; bom, na verdade noto uma vaga sensação de perder algo e lembro da familiaridade, da expressão no rosto dos outros, do nome que ouvi: tris-te-za. É bonito. É a questão do impressionismo, existe sempre mais de uma sugestão, quando vi uma, perdi outra.
Seria bom poder escolher que impressão levar. Talvez a tristeza da infância esteja nisso: nós não escolhemos a impressão que trazemos, mas algo aqui soube das possibilidades. Que o mato orvalhado poderia ter sido uma selva e a lama, areia movediça. Sem telas voyerísticas do mato e contemplações surrealistas eu teria sido mais feliz? Ou só teria sido qualquer coisa que não sou.
Falta sempre um fecho. Digo a mim mesmo quando isso acontece: “você está com medo de dizer tudo”. No entanto quando é que dizemos tudo? Diz-se que deixar brechas é tão pseudo-profundo. Mas outro dia disseram de mim que, por sempre delinear tanto e trazer cada ponto, sou por demais didático. Como se isso fosse uma coisa ruim. Como se para imprimir tivesse de ser vago. Como a vagueza no notar a felicidade das coisas que andam e funcionam na vida,
Veja o menino que fui; o que tinha certeza de que a vida passaria num quadro impressionista, retratando eternamente aquele mato orvalhado cobrindo a terra lamacenta do quintal. E o único lugar para o grande, para o notável, seria a tela daquela cabecinha de menino, de imagens rápidas, sólidas e surrealistas. É esse menino que se isola no quarto com outras telas repletas de artificialidades pontilhadas e digitais, a salvo dos sustos de notar a vida notavelmente grandiosa que construiu sem se saber construindo – pois de outra forma, inclusive, poria tudo abaixo -, para tomar algum fôlego, pois os anos passam e ele ainda guarda a sensação de que a felicidade é vertiginosa, estranha expansiva. Que lhe descompressa os pulmões e exige ar, tomando espaço, ocupando; com um agir intuitivo de levantar a mão e se imprimir no mundo.
Mas essa felicidade é um sopro, está claro. Veja como escrevo: falando a você, sempre a você – querendo ser visto (bem, isso é humano, nós sabemos) -. Só que tão pequeno, tão comprimidamente. Um comprimido de texto. Como se diz das crônicas de humor, só que sem graça. Espere.
Eu sou simplesmente um produto do meu tempo (olhe que tolice: acabo de dizer “isso é humano”. Como se tudo mais, inclusive eu, não o fosse) assim vivemos, sentimos e lembramos. Tudojunto. Pequeno e rápido, talvez não se viva. Mas certamente se fala assim. Economizando. Um ponto disso, um ponto disso e você já sabe o que quero dizer, então para que precisamos ter isso dito? Nós dois, eu e você, temos pressa, mesmo que seja uma pressa tranqüila. É porque vamos apenas passar. E a sua vida na minha mente fica sendo um retrato impressionista.
Então temos tristeza. Eu noto tristeza; bom, na verdade noto uma vaga sensação de perder algo e lembro da familiaridade, da expressão no rosto dos outros, do nome que ouvi: tris-te-za. É bonito. É a questão do impressionismo, existe sempre mais de uma sugestão, quando vi uma, perdi outra.
Seria bom poder escolher que impressão levar. Talvez a tristeza da infância esteja nisso: nós não escolhemos a impressão que trazemos, mas algo aqui soube das possibilidades. Que o mato orvalhado poderia ter sido uma selva e a lama, areia movediça. Sem telas voyerísticas do mato e contemplações surrealistas eu teria sido mais feliz? Ou só teria sido qualquer coisa que não sou.
Falta sempre um fecho. Digo a mim mesmo quando isso acontece: “você está com medo de dizer tudo”. No entanto quando é que dizemos tudo? Diz-se que deixar brechas é tão pseudo-profundo. Mas outro dia disseram de mim que, por sempre delinear tanto e trazer cada ponto, sou por demais didático. Como se isso fosse uma coisa ruim. Como se para imprimir tivesse de ser vago. Como a vagueza no notar a felicidade das coisas que andam e funcionam na vida,
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