quarta-feira, 23 de abril de 2008

Veja, de novo...

O discurso jornalístico anda tão viciado, tão Veja, tão obviamente sem análise profunda e ofensivo à valores divergentes que qualquer matéria de outro tipo é bem-vinda, só por ser diferente. Uma defesa da manutenção das favelas ao invés de sua demolição - de exemplo -, por mais não-estruturada, por mais ilógica, por maior que for a distância entre seus argumentos e as possibilidades do real, eu aceito! Eu compro a briga. Só para ver uma idéia além de "as favelas deixam o Rio feio" "Vamos salvar nosso Cartão Postal". Até o discurso da segurança pública já me impacienta. Outro dia uma amiga dizia o mesmo a respeito da política estudantil na Unb. Disse-me já começar a acreditar na votação paritária só por ser diferente, só por ser outra coisa. O fato é que o excesso de qualquer visão infarta. A ponto de não se esperar do novo ser bom ou ruim. Apenas que seja refrescante.

terça-feira, 15 de abril de 2008

É engraçado nós esperarmos sempre que todas as reações nos atinjam de imediato, quando muitas delas, mesmo a raiva, e o medo, que são as mais apaixonadas, podem demorar horas, dias ou qualquer outra medida de tempo para se manifestar claramente. Através de uma imagem, ou de uma sensação, como uma paisagem, um vento no rosto. Um cheiro ruim. Já tive vezes em que desatei a chorar no meio da rua com uma lembrança que, na hora acontecida, não me provocou nada que me tirasse da indiferença. Há um imediatismo da nossa formação, a formação da nossa geração. Chega a ser possível que só percebamos o prazer das nossas relações muito depois, quando pensamos ou falamos sobre elas. Tão atribulados estávamos em fazer com que fossem prazerosas. Nesses casos não sei se está tudo bem o prazer vir depois, através da lembrança, ou se ele poderia ser parte do acontecimento, caso eu não estivesse tão ansioso pelo minuto seguinte. Ultimamente estou sempre em dúvida se é preferível dizer alguma coisa ou apreciar simplesmente o silêncio.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Bloqueio

Onde coloquei esta história? Onde está, onde está? Onde a perdi, como ela sumiu de mim? Será que ainda a guardo comigo? Talvez eu a tenha deixado cair nos arquivos velhos e empoeirados, estranhamente reluzentes da memória esquecida.
Os arquivos trancados, emperrados com a falta de uso, empilhados uns sobre os outros, próximos demais, apertados demais. Prestes a cair daquela imensa janela circular remendada com toras de uma madeira apodrecida - o único lugar por onde o sol pode entrar.
Exageradamente afastados da escada. Pelo risco de que um visitante qualquer, vítima de um tropeção em um dos livros não lidos no tapete, usasse a alça de uma das gavetas para se sustentar.

Como outra vez aconteceu a minha tia Vera, no mezanino do meu avô, aleijando a velha empertigada, que passou o resto da vida conciliando aquele nariz empinado com um mancar ridículo. E nunca participou de aventura nenhuma, porque se recusava a "se misturar"

Será por isso que a história ficou aqui?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Tomada de Consciência

Descobri recentemente que sofro de uma timidez crônica com personalidades e seus respectivos públicos.

Dia de Poesia

Laura Moreira


"Quando é dia de poesia
Eu tenho vontade de sair correndo.
Pegar o telefone, ver um amigo, beber, trepar,
Qualquer coisa que tire isso da cabeça.
São dias que um nada faz chorar
E um olhar opaco é uma violência.
Um filme fotográfico que imprime
As minúsculas coisas da vida.
Os dias de poesia são os piores,
A poesia sufoca.
E então tudo comove, angustia, excita, desespera
E eu quero fugir, muito mesmo.
Porque poesia é morte
E mergulhar é morrer um pouco.
As vezes eu tenho coragem
As vezes eu viro o rosto
E finjo que não é comigo.
Muitas vezes eu viro o rosto e finjo que não é comigo.
Eu adoro quem diz que poesia é bonitinha
E os olhos brilham e dão logo um suspiro de amor.
E tem inveja dos poetas pelo gênio, sensibilidade, glamour.
Esses nunca leram poesia
E se leram nunca comeram poesia e respiraram poesia e choraram poesia
Quando a poesia vem
A gente tenta sempre pensar em outra coisa
Qualquer coisa, porque é um cansaço.
Porque ser poeta é um cansaço.
A poesia é suja e feia que nem sexo é sujo e feio.
A poesia escorre pelo queixo e mancha a roupa,
Vem com o orgasmo e lambe a orelha.
A poesia é bêbada e dorme sempre com o rosto na sarjeta.
Ser poeta é amar o feio, o torto, o disforme
Porque poesia é torta, feia e disforme,
Retrato da vida.
Ser poeta é amar o que é
Sem excentricidades."



Talvez seja pela intimidade dos amigos, ou pela identificação, mas penso que as poesias da Laura ficam muito mais vivas quando entoadas pelo Ferdí.

A mais pura verdade

"Brasília é a capital do carão. Leia-se: Medão"
Caminhei a vida inteira em beiradas de abismos e agora sinto-me viciado nas vertigens.

Crônica prematura

Ah... pobre Virgínia, quisera sempre o melhor homem.
Os desamparados tendem a colecionar figuras paternas.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Maria Bethânia



Foi assim a estréia de Maria Bethânia. No teatro Opinião, com dezoito anos, no Rio, cantando "Carcará" de João do Vale. À convite da Nara Leão, que lhe ouvira cantar no show "Mora na filosofia", onde Bethânia fora lançada oficialmente como cantora por Caetano, ainda em Salvador. A repercussão de Carcará foi enorme, e ela voltou para Salvador, dizem, temerosa do rótulo de cantora de protesto. Voltaria em 1996 decidida a ser cantora.

Patrimônio nacional. Pode ver.

Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa o umbigo inté matá
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará

segunda-feira, 7 de abril de 2008

"Há duas grandes tragédias na vida: uma é não conseguir aquilo que seu coração ardentemente deseja. A outra é conseguir."
George Bernard Shaw


Ironicamente, o problema com a liberdade é ela nos tornar responsáveis. Quando não somos livres, temos todas as ações justificadas como a vontade do outro. Quando o somos, existe apenas um protagonista. Herói e vilão. E não são as circustâncias.

George Bernard Shaw





George Bernard Shaw foi jornalista no século dezenove; um dos maiores críticos de arte e resenhista literário noticiados pela história. E dramaturgo brilhante. Das suas peças vieram obras como "My fair lady" (inspirada em "Pigmalião" - que o Millôr traduziu) e do seu gênio frases que marcam filmes e séries até hoje. Shaw era um irlandês polêmico e irônico. Passou dez anos em Londres até conseguir um trabalho fixo, lá pelos vinte e nove anos. Enquanto isso, suas obras foram rejeitadas por possivelmente todas as editoras londrinas. "Quando era jovem, descobri que nove de cada dez coisas que eu fazia eram um fracasso. Eu não queria ser um fracasso. Então, passei a trabalhar dez vezes mais"
Mas ele não desistiu. Da mesma forma, não se calou durante a I guerra; denunciou aliados e alemães em suas culpas e reinvindicou a paz. Era um defensor do socialismo, crítico ferrenho dos costumes da sociedade vitoriana - especialmente da estreita mente masculina - e sua arte teatral rasa.
Deve ter criado umas setenta peças, antes de recusar o Prêmio Nobel.

"Precisamos de algumas pessoas malucas,
vejam só para onde as pessoas normais nos levaram."


Hoje, é patrimônio da humanidade. O que quer que isso signifique.

George Bernard Shaw



"Há duas tragédias na vida: uma é não conseguir o que o coração deseja ardentemente. A outra é conseguir."

Shaw foi jornalista, escritor e dramaturgo irlândes do fim do século 19. Construiu-se como crítico de arte, resenhista literário e colunista musical. No entanto, levou dez anos para consegui um trabalho fixo em londres,