Laura Moreira
"Quando é dia de poesia
Eu tenho vontade de sair correndo.
Pegar o telefone, ver um amigo, beber, trepar,
Qualquer coisa que tire isso da cabeça.
São dias que um nada faz chorar
E um olhar opaco é uma violência.
Um filme fotográfico que imprime
As minúsculas coisas da vida.
Os dias de poesia são os piores,
A poesia sufoca.
E então tudo comove, angustia, excita, desespera
E eu quero fugir, muito mesmo.
Porque poesia é morte
E mergulhar é morrer um pouco.
As vezes eu tenho coragem
As vezes eu viro o rosto
E finjo que não é comigo.
Muitas vezes eu viro o rosto e finjo que não é comigo.
Eu adoro quem diz que poesia é bonitinha
E os olhos brilham e dão logo um suspiro de amor.
E tem inveja dos poetas pelo gênio, sensibilidade, glamour.
Esses nunca leram poesia
E se leram nunca comeram poesia e respiraram poesia e choraram poesia
Quando a poesia vem
A gente tenta sempre pensar em outra coisa
Qualquer coisa, porque é um cansaço.
Porque ser poeta é um cansaço.
A poesia é suja e feia que nem sexo é sujo e feio.
A poesia escorre pelo queixo e mancha a roupa,
Vem com o orgasmo e lambe a orelha.
A poesia é bêbada e dorme sempre com o rosto na sarjeta.
Ser poeta é amar o feio, o torto, o disforme
Porque poesia é torta, feia e disforme,
Retrato da vida.
Ser poeta é amar o que é
Sem excentricidades."
Talvez seja pela intimidade dos amigos, ou pela identificação, mas penso que as poesias da Laura ficam muito mais vivas quando entoadas pelo Ferdí.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
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